O Rebelde do Traço
Comentando as Indiretas...
Meu irmão me chamou a atenção para a exposição dos desenhos de Henfil que o CCBB acabou de inaugurar. Aproveitei o feriadão para visitá-la e adorei. São cerca de 500 trabalhos, concentrados nos anos 70, que fazem o público rir, indignar-se e às vezes ficar com um nó na garganta.
Os personagens mais conhecidos de Henfil, o Fradim e a Graúna, tem um humor agressivo demais para meu gosto. Mas dei gargalhadas com seus tipos que satirizam o cotidiano dos anos de chumbo, como Ubaldo, o paranóico que vive apavorado com a repressão militar. Orelhão, o operário que comenta as principais notícias da época, também é ótimo.
Alguns cartuns são de arrepiar. Um deles mostra o túmulo de Vladmir Herzog e um sujeito chegando aos berros: "Vlado, saiu a anistia!". Outro é uma vista aérea do Rio de Janeiro tomado pela manifestação das Diretas Já e a estátua do Cristo dizendo "Pai, eu vou descer!".
O único problema da exposição é ser curta demais, limitada a uma pequena sala no segundo andar do CCBB, lotada pelo interesse do público de todas as idades, inclusive aqueles que, como eu, só conheceram o trabalho de Henfil através de livros (como a ótima biografia "O Rebelde do Traço", de Dênis de Moraes). Valeria a pena caprichar mais na explicação do contexto histórico. Poderia haver, por exemplo, um módulo sobre a relação do cartunista com o sindicalismo do ABC - ele foi amigo de Lula e chegou até a criar um personagem para o jornal dos metalúrgicos.
Novas do apartamento: a inspeção familiar não encontrou nenhum problema quanto à infra-estrutura, mas apareceram complicações jurídicas - a proprietária tem que pagar um imposto muito alto, pelo fato do imóvel ser foreiro. Agora ela busca uma alternativa com sua advogada, já deixei claro que só assino o contrato de compra e venda quando esse imbroglio burocrático for resolvido.
2 Comentarios:
'Agressivos' como a situação pedia, não?
R,
sem dúvida, o momento não era fácil, mas isso também era muito devido ao temperamento combativo do Henfil.
Há magníficas obras de arte e de crítica social à ditadura que tem um estilo mais delicado, como o romance "As Meninas", de Lygia Fagundes Telles ou as canções de Chico Buarque.
Abs,
Maurício
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