quarta-feira, novembro 03, 2004

Marcha Imperial

Escrevo com os sites de notícias dando a vitória de Bush. Permanece a indefinição quanto à situação em Ohio mas Kerry já teria reconhecido a derrota em telefonema ao presidente reeleito. Minha chefe me ligou de São Paulo (onde discute a crise no Fórum Social Mundial, que talvez saia de Porto Alegre por conta da derrota do PT na cidade) e pediu para que eu acrescentasse uma análise das eleições americanas num projeto que discutiremos amanhã com financiadores alemães. Trata-se de um ciclo de seminários, já realizamos quatro este ano. Vínhamos discutindo a hipótese de incluir os temas do terrorismo e da guerra e agora me parece que isso se tornou urgente.

A maioria das pessoas com quem converso acredita que os americanos foram manipulados e enganados para eleger Bush, no contexto da “cultura do medo” pós 11 de setembro. Claro que a propaganda fez seu efeito, mas temo que a resposta seja mais assustadora. Há muitos americanos que realmente acreditam nas idéias defendidas pelo presidente. Não foram logrados. Votaram sabendo muito bem o que querem.

Se olharmos os momentos de belicismo e nacionalismo extremado de outras grandes potências – Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Japão – veremos que todos contaram com amplo apoio popular, mesmo quando não haviam sofrido um ataque do porte daquele perpetrado por Bin Laden. Os pacifistas são em geral minoria, pelo menos a princípio, até que fileiras de caixões comecem a aparecer. A ideologia legitimadora da expansão pode assumir a forma de “guerra contra o terror”, “missão civilizatória”, “fardo do homem branco”, “defesa da fé” (ou da democracia e dos direitos humanos, esses credos seculares). Pouco importa. Os EUA não são diferentes nesse aspecto de outros países.

No fim da minha tese de mestrado sobre a política externa de Bush, escrevi que a diplomacia americana alternava ciclos de poder duro (força militar) com medidas moderadas envolvendo pressões político-econômicas e instituições internacionais. Contudo, o dado fundamental é a ausência de uma superpotência rival que possa conter as possibilidades de ação dos EUA. Nas palavras do cientista político Stephen Walt: “Grande poder pode ou não corromper, mas ele certamente é uma tentação; e auto-restrição não é uma virtude cardeal dos Estados Unidos. “ Ou de qualquer grande potência.


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