Ainda as Eleicoes
Aqui reproduzo uma entrevista publicada ontem n'O Globo com nosso conspirador de plantao, Joao Daniel. Concordo com quase tudo -- no entanto acho que alem de votar com medo, o americano votou em "valores morais" (para eles uma mistura de fundamentalismo cristao e obscurantismo social).
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Terror e guerra pesaram mais no voto americano, diz analista
Denise Marinho, Globo Online
RIO - As eleições presidenciais dos EUA registraram um comparecimento recorde às urnas. Mas em que pensava o eleitor americano na hora de votar: na política externa. Esta é a opinião do professor de Política Externa Americana, João Daniel Lima de Almeida, do Instituto de Relações Internacionais, da PUC-RIO.
- Os americanos foram votar com medo. Como essa foi a primeira eleição desde o 11 de Setembro e em meio à guerra, ao meu ver, eles acharam que (o democrata) John Kerry não era um líder à altura dessa tarefa internacional - disse ele, em entrevista ao GLOBO ONLINE.
Apesar de a Casa Branca considerar George W. Bush reeleito, ainda falta apurar os votos de Ohio, estado que com 20 delegados no Colégio Eleitoral, ainda pode mudar os números e dar e tornar o democrata John Kerry o próximo presidente dos EUA.
GLOBO ONLINE: A Casa Branca foi precipitada ao anunciar a reeleição de George W. Bush quando a eleição não está definida em Ohio?
Profº JOÃO DANIEL LIMA DE ALMEIDA: Com os resultados provisórios, mas quase definitivos, Bush já venceu nos principais estados. Ele venceu Flórida, e tudo indica que irá vencer em Ohio, então, com isso, ele seria o novo presidente no colégio eleitoral.
Além disso ele teve uma vitória expressiva do ponto de vista do voto popular, isso o legitima. Ao contrário do que aconteceu em 2000, a legitimidade dele não é mais questionada. Ele foi eleito pelo povo americano. Acho que é uma avaliação razoável a Casa Branca.
GLOBO ONLINE: Em que o eleitor americano mais prestou atenção ao votar para presidente este ano?
Profº JOÃO DANIEL: Na política externa. Desde a eleição de (Jimmy) Carter, (presidente democrata de 1977-1981), a política externa não vinha tendo um peso tão grande em uma eleição. A política externa foi essencial para a vitória do Bush, se tivesse sido a questão da economia, da geração de empregos, ele teria sido derrotado.
Além disso, há o fato medo. Eu acho que (o vídeo do líder da Al-Qaeda, Osama) Bin Laden ajudou um pouco nisso e o fato é que os americanos foram votar com medo.
GLOBO ONLINE: O candidato independente Ralph Nader atrapalhou os democratas este ano também?
Profº JOÃO DANIEL: Não acho que Nader atrapalhou os democratas. É só ver que nos estados importantes como Ohio e Flórida, John Kerry não venceria com os votos de Nader.
GLOBO ONLINE: Os resultados apontam para uma reeleição de Bush em uma nação dividida, mas onde os republicanos dominam as duas casas do Congresso. O que se pode esperar de um segundo possível governo Bush?
Profº JOÃO DANIEL: O Senado e a Câmara são suportes que o presidente tem que levar em consideração. Se John Kerry tivesse sido eleito, o governo dele seria muito complicado. O presidente Bush tem agora uma margem muito maior agora. Há duas previsões possíveis entre os analistas internacionais: a de que o Bush vai aquietar-se ou, por causa de sua legitimidade popular, vai tomar medidas mais ousadas.
Eu acredito na segunda hipótese, até por causa do vice-presidente de Bush, Dick Cheney. Tradicionalmente na política americana, em um segundo mandato, o vice-presidente tem uma força maior porque ele é o possível sucessor do presidente. Então, o presidente leva mais em consideração as opiniões de seu vice. Mas não é esse o caso.
Nessa eleição, Cheney não se destacou, ele é fraco politicamente, não tem apoio popular e é um homem doente. Ele não vai ser candidato à sucessão de Bush. Eu acho que Bush ouvirá mais a (assessora de Segurança Nacional) Condoleezza Rice, que ele já ouvia. Ela vai sair fortalecida. O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, vai sair e eu tenho quase certeza de que ela assumirá a pasta.
GLOBO ONLINE: Voltando à questão do que se pode esperar de um possível segundo mandato Bush, o que o senhor considera ousadia?
Profº JOÃO DANIEL: Vai haver uma ousadia internacional ainda maior, com guerra preventiva, maior déficit interno e corte de impostos. O Irã pode ser a "bola da vez", a Coréia do Norte ainda não. Mas há fatos por trás disso que precisam ser considerados, como questões econômicas, décifit do Estado e o alistamento militar obrigatório para se travar três guerras ao mesmo tempo.
GLOBO ONLINE: O senhor acha que Bush possa reintroduzir o alistamento militar obrigatório?
Profº JOÃO DANIEL - Acho muito difícil. O alistamento militar obrigatório é uma medida muito impopular, mas por outro lado Bush não tem muito a perder Ele já fez várias promessas que não cumpriu. No segundo mandato, se for o caso, por exemplo, de um novo ataque terrorista aos EUA, ele tem legitimidade e apoio no Congresso para adotar medidas impopulares e passá-las ao povo americano como medida necessária. Mas eu não acredito nisso.
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Terror e guerra pesaram mais no voto americano, diz analista
Denise Marinho, Globo Online
RIO - As eleições presidenciais dos EUA registraram um comparecimento recorde às urnas. Mas em que pensava o eleitor americano na hora de votar: na política externa. Esta é a opinião do professor de Política Externa Americana, João Daniel Lima de Almeida, do Instituto de Relações Internacionais, da PUC-RIO.
- Os americanos foram votar com medo. Como essa foi a primeira eleição desde o 11 de Setembro e em meio à guerra, ao meu ver, eles acharam que (o democrata) John Kerry não era um líder à altura dessa tarefa internacional - disse ele, em entrevista ao GLOBO ONLINE.
Apesar de a Casa Branca considerar George W. Bush reeleito, ainda falta apurar os votos de Ohio, estado que com 20 delegados no Colégio Eleitoral, ainda pode mudar os números e dar e tornar o democrata John Kerry o próximo presidente dos EUA.
GLOBO ONLINE: A Casa Branca foi precipitada ao anunciar a reeleição de George W. Bush quando a eleição não está definida em Ohio?
Profº JOÃO DANIEL LIMA DE ALMEIDA: Com os resultados provisórios, mas quase definitivos, Bush já venceu nos principais estados. Ele venceu Flórida, e tudo indica que irá vencer em Ohio, então, com isso, ele seria o novo presidente no colégio eleitoral.
Além disso ele teve uma vitória expressiva do ponto de vista do voto popular, isso o legitima. Ao contrário do que aconteceu em 2000, a legitimidade dele não é mais questionada. Ele foi eleito pelo povo americano. Acho que é uma avaliação razoável a Casa Branca.
GLOBO ONLINE: Em que o eleitor americano mais prestou atenção ao votar para presidente este ano?
Profº JOÃO DANIEL: Na política externa. Desde a eleição de (Jimmy) Carter, (presidente democrata de 1977-1981), a política externa não vinha tendo um peso tão grande em uma eleição. A política externa foi essencial para a vitória do Bush, se tivesse sido a questão da economia, da geração de empregos, ele teria sido derrotado.
Além disso, há o fato medo. Eu acho que (o vídeo do líder da Al-Qaeda, Osama) Bin Laden ajudou um pouco nisso e o fato é que os americanos foram votar com medo.
GLOBO ONLINE: O candidato independente Ralph Nader atrapalhou os democratas este ano também?
Profº JOÃO DANIEL: Não acho que Nader atrapalhou os democratas. É só ver que nos estados importantes como Ohio e Flórida, John Kerry não venceria com os votos de Nader.
GLOBO ONLINE: Os resultados apontam para uma reeleição de Bush em uma nação dividida, mas onde os republicanos dominam as duas casas do Congresso. O que se pode esperar de um segundo possível governo Bush?
Profº JOÃO DANIEL: O Senado e a Câmara são suportes que o presidente tem que levar em consideração. Se John Kerry tivesse sido eleito, o governo dele seria muito complicado. O presidente Bush tem agora uma margem muito maior agora. Há duas previsões possíveis entre os analistas internacionais: a de que o Bush vai aquietar-se ou, por causa de sua legitimidade popular, vai tomar medidas mais ousadas.
Eu acredito na segunda hipótese, até por causa do vice-presidente de Bush, Dick Cheney. Tradicionalmente na política americana, em um segundo mandato, o vice-presidente tem uma força maior porque ele é o possível sucessor do presidente. Então, o presidente leva mais em consideração as opiniões de seu vice. Mas não é esse o caso.
Nessa eleição, Cheney não se destacou, ele é fraco politicamente, não tem apoio popular e é um homem doente. Ele não vai ser candidato à sucessão de Bush. Eu acho que Bush ouvirá mais a (assessora de Segurança Nacional) Condoleezza Rice, que ele já ouvia. Ela vai sair fortalecida. O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, vai sair e eu tenho quase certeza de que ela assumirá a pasta.
GLOBO ONLINE: Voltando à questão do que se pode esperar de um possível segundo mandato Bush, o que o senhor considera ousadia?
Profº JOÃO DANIEL: Vai haver uma ousadia internacional ainda maior, com guerra preventiva, maior déficit interno e corte de impostos. O Irã pode ser a "bola da vez", a Coréia do Norte ainda não. Mas há fatos por trás disso que precisam ser considerados, como questões econômicas, décifit do Estado e o alistamento militar obrigatório para se travar três guerras ao mesmo tempo.
GLOBO ONLINE: O senhor acha que Bush possa reintroduzir o alistamento militar obrigatório?
Profº JOÃO DANIEL - Acho muito difícil. O alistamento militar obrigatório é uma medida muito impopular, mas por outro lado Bush não tem muito a perder Ele já fez várias promessas que não cumpriu. No segundo mandato, se for o caso, por exemplo, de um novo ataque terrorista aos EUA, ele tem legitimidade e apoio no Congresso para adotar medidas impopulares e passá-las ao povo americano como medida necessária. Mas eu não acredito nisso.
1 Comentarios:
Muito interessante as palavras do conspirador Daniel...
Gostei de sua visão deste momento histórico e fundamental neste atual cenário mundial, nas eleições da potência norte-americana.
Fico até honrada de ter esta personalidade importante como meu professor.
Parabéns Daniel.
Ass.: Agnes Pastor, José Euzébio, Taiana Piola
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