quinta-feira, setembro 02, 2004

A "Wal-Martizacao" do Mundo

Ha algum tempo, o New York Times decidiu ativar sua metralhadora giratoria contra a rede de lojas de departamento Wal-Mart. Aqui nos EUA, a Wal-Mart eh onipresente, onipotente e onisciente. Eles sao de longe a maior empresa dos EUA e isso se traduz em numeros assombrosos. Sua movimentacao de dinheiro representa 2,3% do PIB americano (!) e a empresa emprega 1,5 milhao de pessoas (!!). Eh claro tambem que a empresa representa ao extremo o melhor e o pior do capitalismo.

Entrar em uma loja-armazem do Wal-Mart por aqui eh uma experiencia bizarra: acho que a comparacao seria uma super-Lojas Americanas misturando supermercado, loja de eletronicos, C&A, loja de brinquedos e loja de armas, entre muitas outras coisas. O tamanho da empresa eh tao grande que nao ha comparacao possivel: qualquer coisa que voce precise, voce vai encontrar mais barato no Wal-Mart.

Evidentemente, isso estah acabando com qualquer tipo de competicao de qualquer outro tipo de loja. De verdureiros a vendedores de bicicletas ou livros que tem suas lojas dependentes de comunidades pequenas, os negocios estao quebrando em uma velocidade assustadora. O Wal-Mart tambem responde a varios processos por total falta de respeito aos direitos trabalhistas dos empregados, que trabalham por salarios ridiculos e, geralmente, sem qualquer tipo de seguro de saude ou direito a ferias. Tambem sao proibidos de se sindicalizar. Seguindo os ventos do Nafta, o Wal-Mart jah eh bastante representativo no Mexico e estah comprando as maiores cadeias de supermercado mexicanas para se instalar.

O NYT constantemente publica artigos denunciando as condicoes de trabalho dos empregados do Wal-Mart e seus efeitos para a economia local. Qualquer desses artigos sempre eh recebido com uma chuva de cartas, favoraveis ou nao ao gigante corporativo. Alguns ateh mesmo acreditam que o Wal-Mart vai ser o caso decisivo para a redefinicao juridica (para o bem ou para o mal) das leis trabalhistas norte-americanas. Resta ver o que acontecerah nos EUA e evitar que os efeitos perversos cheguem ao Brasil.

1 Comentarios:

Blogger Bruno Lopes said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

A construção de uma enorme corporação apenas para vender pães, armas, discos e livros me parece estranha. Para mim, parece um supermercado da extinta União Soviética, com a diferença que existem produtos nas prateleiras.

O ganho de escala é relativamente pequeno, mas existe - por exemplo, o Wall Mart pode ir até à China para comprar bicicletas porque, dado seu volume de encomendas, o custo do frete será unitariamente mais baixo.

Mas o Wall Mart é forte principalmente porque, devido ao seu gigantismo, consegue fazer seus fornecedores terem preços mais baixos, comprimindo sua margem de lucro. E essa tendência se alimenta com um feedback positivo: cada vez que consegue espremer seus fornecedores e ganhar dinheiro, o Wall Mart cresce e fica ainda mais forte.

Há um tempo atrás, grandes companhias entravam em colapso porque a burocracia das áreas-meio crescia a ponto de anular os ganhos de escala. Mas agora temos computadores, que permitem um controle preciso feito por poucas pessoas sobre enormes processos produtivos, o que permitiu o crescimento do Wall Mart.

Se os Estados Unidos continuarem a querer ter o capitalismo liberal, alguma hora precisarão colocar a legislação anti-truste em prática contra o Wall Mart. E não é apenas uma questão econômica, mas também cultural e política: o Wall Mart obriga gravadoras a alterar canções que considera ofensivas. Considerando que em muitas cidades americanas a única opção ao Wall Mart é a compra pela internet, o acesso que esses habitantes têm a livros e discos fica extremamente prejudicado.

setembro 14, 2004 5:52 PM  

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