domingo, agosto 01, 2004

Equador: a semente e o vulcão

Bom estar de volta. Nada como um domingo de sol no Rio de Janeiro, regado a feijão preto e com Ana Carolina cantando no CD Player (sempre que estou fora, sinto uma tremenda saudade física da música brasileira). Ontem ainda estava bastante tonto, por conta da diferença de altitude, mas agora estou novamente bem e pronto para fazer um balanço do Forum Social das Américas e da viagem ao Equador.

É fascinante a riqueza dos movimentos sociais e políticos da América Latina, em particular o indígena. Nosso continente há muito deixou para trás o esteriótipo da política dominada por generais e fazendeiros. A sociedade se tornou bem mais complexa e diversificada, com líderes e ativistas qualificados. Conheci pessoas inteligentes, articuladas e interessantes de quase todos os países da região.

Contudo, a política oficial não acompanhou o ritmo dessas transformações. Nossa elite política continental é, em comparação, velha, sórdida, antiquada. Caciques oligárquicos do interior ou tecnocratas formados nos EUA. Claro que há exceções, porém no geral os partidos me parecem fora de sintonia com o que há de melhor em nossas sociedades.

Penso num personagem de Górki que diz que existem muitos canalhas neste mundo, mas que nem a vida nem o futuro pertencem a eles. Quero acreditar que o mesmo será verdade para nossa América, e que vi algo como a semente de um novo continente: democrático, multicultural, moderno, progressista.

Evidente, ninguém ignora os problemas que nos afligem. Desigualdade, pobreza, violência, corrupção, instituições políticas ineficazes. Um vulcão social latente, que aqui e ali expele fumaça mas nunca explode. Miguel Astúrias, o Nobel de literatura guatematelco, também usou o vulcão como uma metáfora para a "grandeza impotente" da América Latina.

Entre sementes e vulcões, dificuldades e esperanças, vamos indo. Quando comecei a me interessar por política, ela era um modo de mudar a sociedade. Depois descobri que é, com mais freqüência, outras coisas: uma janela para o mundo maior, para além dos limites mesquinhos do cotidiano; uma maneira de conhecer pessoas e fazer amigos; um passatempo mais divertido do que novelas (com direito a heróis, vilões, comédia, drama e suspense). Os ativistas mais legais que conheço são aqueles que incorporaram essa dimensão humana da política. A alegria do caminho é tão importante quanto os objetivos finais. Caminhemos.

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