O que ha com os EUA?
Tentando responder as interessantes perguntas do Helvecio no ultimo post, eu acho que ha dois grandes problemas centrais com a democracia norte-americana atual. Um eh de ordem institucional-estrutural e o outro eh de ordem cultural (ou tocquevilliana, digamos). Vou tentar explicar melhor.
O primeiro problema vem de um sistema eleitoral que sempre privilegia o centro, nao importando a qualidade dos candidatos. As eleicoes norte-americanas sao decididas atraves de um colegio eleitoral em que os votos diretos sao usados apenas para eleger representantes que votam indiretamente nos candidatos a presidencia (este sistema elegeu George Bush em 2000, mesmo tendo perdido por alguns milhares de votos diretos frente a Al Gore). Gracas a isso, o alvos eleitorais nao sao pessoas, sao estados. E hoje, nos EUA, as eleicoes infelizmente resumem-se a oito estados: Michigan, Minnessota, Missouri, Ohio, Oregon (antes democrata, mas agora indeciso), Pennsylvania, Wisconsin e, fatidicamente, Florida. Os outros votam sempre da mesma maneira ou seus votos para o colegio eleitoral nao conseguem decidir a eleicao. Com somente dois partidos que importam, o discurso politico constantemente caminha para o centro. Um extremismo a mais pode levar a uma derrota em um estado conservador importante e arruinar uma campanha. Como consequencia, isso gera uma mediocridade politica incrivel. Respondendo entao a sua primeira pergunta, mesmo que o candidato a presidencia dos EUA fosse o Che Guevara, para ganhar uma eleicao ele teria que dizer as mesmas coisas que todos, acreditar em Deus e fazer campanha exclusivamente no meio-oeste americano. Como voce pode ver, eh bastante dificil, especialmente para a paciencia de quem gostaria de ver outros temas serem discutidos.
O segundo problema eh de ordem cultural e nao acho que seja exclusivo dos EUA. Ha hoje nos principais paises do primeiro mundo uma apatia eleitoral como ha muito nao se via. 50% de nao-participacao nas eleicoes eh bastante comum (como no caso dos EUA), e em alguns outros paises chega a 60, 65% do eleitorado. Nao sei se isso eh uma "crise da democracia", mas esses numeros colocam em perspectiva a qualidade dos politicos atuais. Olha para a qualidade dos politicos tanto nos EUA quanto na Europa hoje e voce vai ver que a discussao de ideias substanciais de diferentes modelos nao existe mais. No primeiro mundo, a democracia se desenergizou e virou uma especie de votacao de taxas de condominio, apesar de algumas importantes lutas como ecologia, direitos humanos e a questao da imigracao. No mais, ha uma crenca (bastante triste), especialmente generalizada por aqui, de que o voto importa pouco e que nao adianta muito participar. Isso leva a um circulo vicioso, onde menos participacao leva a piores politicos, e por ahi vai.
Sei que isso tudo eh bastante simplificador, mas alguns problemas passam por ahi. Nao eh estranho portanto que um programa de reality show tenha mais ressonancia do que alguns discursos politicos.
O primeiro problema vem de um sistema eleitoral que sempre privilegia o centro, nao importando a qualidade dos candidatos. As eleicoes norte-americanas sao decididas atraves de um colegio eleitoral em que os votos diretos sao usados apenas para eleger representantes que votam indiretamente nos candidatos a presidencia (este sistema elegeu George Bush em 2000, mesmo tendo perdido por alguns milhares de votos diretos frente a Al Gore). Gracas a isso, o alvos eleitorais nao sao pessoas, sao estados. E hoje, nos EUA, as eleicoes infelizmente resumem-se a oito estados: Michigan, Minnessota, Missouri, Ohio, Oregon (antes democrata, mas agora indeciso), Pennsylvania, Wisconsin e, fatidicamente, Florida. Os outros votam sempre da mesma maneira ou seus votos para o colegio eleitoral nao conseguem decidir a eleicao. Com somente dois partidos que importam, o discurso politico constantemente caminha para o centro. Um extremismo a mais pode levar a uma derrota em um estado conservador importante e arruinar uma campanha. Como consequencia, isso gera uma mediocridade politica incrivel. Respondendo entao a sua primeira pergunta, mesmo que o candidato a presidencia dos EUA fosse o Che Guevara, para ganhar uma eleicao ele teria que dizer as mesmas coisas que todos, acreditar em Deus e fazer campanha exclusivamente no meio-oeste americano. Como voce pode ver, eh bastante dificil, especialmente para a paciencia de quem gostaria de ver outros temas serem discutidos.
O segundo problema eh de ordem cultural e nao acho que seja exclusivo dos EUA. Ha hoje nos principais paises do primeiro mundo uma apatia eleitoral como ha muito nao se via. 50% de nao-participacao nas eleicoes eh bastante comum (como no caso dos EUA), e em alguns outros paises chega a 60, 65% do eleitorado. Nao sei se isso eh uma "crise da democracia", mas esses numeros colocam em perspectiva a qualidade dos politicos atuais. Olha para a qualidade dos politicos tanto nos EUA quanto na Europa hoje e voce vai ver que a discussao de ideias substanciais de diferentes modelos nao existe mais. No primeiro mundo, a democracia se desenergizou e virou uma especie de votacao de taxas de condominio, apesar de algumas importantes lutas como ecologia, direitos humanos e a questao da imigracao. No mais, ha uma crenca (bastante triste), especialmente generalizada por aqui, de que o voto importa pouco e que nao adianta muito participar. Isso leva a um circulo vicioso, onde menos participacao leva a piores politicos, e por ahi vai.
Sei que isso tudo eh bastante simplificador, mas alguns problemas passam por ahi. Nao eh estranho portanto que um programa de reality show tenha mais ressonancia do que alguns discursos politicos.
2 Comentarios:
Caro Bruno,
Obrigado por me oferecer uma resposta tão elaborada a uma pergunta "não tão séria". Agora há pouco assisti a uma entrevista com o Mangabeira Unger no "Conexão Roberto D'Avilla" onde ele falou sobre o Brasil e os EUA. Dizia entre muitas outras coisas, que os EUA construiram dógmas sócio-culturais, como a sociedade livre e que isso os tornou temerosos do mundo, compelidos e não determinados a ser um império. Disse ainda que a sociedade estadunidense, por acreditar nesse dógma, não atingiu o estágio de uma sociedade solidária. O Brasil muito menos, mas ele pensa que o Brasil deve seguir os passos dos EUA como um projeto de grandeza.
no mais,
Abraços,
Helvécio
Ps. você viu o novo livro do S. Huntington? li na Folha e achei terrível, quase um elogio a xenofobia. Eu não li o livro, mas pelo que ele disse na entrevista era uma defesa de uma "raça superior estadunidense" quase uma nação ariana, praticamente jogou os latinos no lixo ao afirmar que eles devem se adaptar a qualquer custo ao "American way of life". O que há com esse cara Bruno? Será possível que alguém sério concorde com ele?
Bruno e Helvécio,
quem tem amigos como vocês não precisa de Manhattan Conection, Globonews, Folha de S. Paulo, etc. Continuem a ótima discussão, que acompanho com muito interesse. Abraços!
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