O País Sob Minha Pele
Na semana passada a tia da Patrícia – amiga querida de muitos anos, colega da faculdade e de trabalho – me emprestou “O País Sob Minha Pele”. O detalhe é que não conheço a tia da Pat, mas ela intuiu pelo que ouviu falar sobre mim que eu iria gostar do livro e acertou em cheio. São as “memórias de amor e guerra” da Gioconda Belli, uma poeta nicaragüense que teve participação de destaque na Revolução Sandinista.
Já havia lido um de seus romances, “A Mulher Habitada”, que conta a história de uma jovem da elite nicaragüense que adere ao sandinismo. Imaginei que tivesse muito de autobiográfico e as memórias confirmaram a impressão. Gioconda escreve bem e com sensibilidade, descrevendo uma trajetória que não é assim tão diversa do que houve no Brasil com a geração dos anos 60 – um de seus maridos, inclusive, foi um exilado brasileiro.
Para mim, o melhor do livro é a riqueza das experiências latino-americanas da autora, suas descrições do tempo em que viveu na Nicarágua, México, Costa Rica e das viagens e aventuras pelo Panamá e Cuba. O envolvimento dela com a política foi profundo, gostei de sua análise das dificuldades do sandinismo (particularmente o autoritarismo dos irmãos Ortega, líderes do movimento) e da derrota da revolução diante da pressão dos EUA e da guerra civil. Há várias anedotas interessantes, não é qualquer mulher que esnobou cantadas de Fidel Castro, Brizola e Osmar Torrijos (o presidente do Panamá que convenceu Carter a devolver o Canal).
Fecho com uma história brasileira. Estou fazendo um treinamento de software livre no trabalho e hoje estávamos mexendo na planilha, brincando com umas imagens do globo terrestre que encontramos na galeria. Uma delas mostrava o Brasil bem no centro do planeta e o estagiário da firma da consultoria de informática escreveu sob a imagem: “O país dos falsos ideais”. Nesse pequeno gesto, está o desabafo de toda uma geração.
Nada de novo no front hospitalar do meu tio.
Já havia lido um de seus romances, “A Mulher Habitada”, que conta a história de uma jovem da elite nicaragüense que adere ao sandinismo. Imaginei que tivesse muito de autobiográfico e as memórias confirmaram a impressão. Gioconda escreve bem e com sensibilidade, descrevendo uma trajetória que não é assim tão diversa do que houve no Brasil com a geração dos anos 60 – um de seus maridos, inclusive, foi um exilado brasileiro.
Para mim, o melhor do livro é a riqueza das experiências latino-americanas da autora, suas descrições do tempo em que viveu na Nicarágua, México, Costa Rica e das viagens e aventuras pelo Panamá e Cuba. O envolvimento dela com a política foi profundo, gostei de sua análise das dificuldades do sandinismo (particularmente o autoritarismo dos irmãos Ortega, líderes do movimento) e da derrota da revolução diante da pressão dos EUA e da guerra civil. Há várias anedotas interessantes, não é qualquer mulher que esnobou cantadas de Fidel Castro, Brizola e Osmar Torrijos (o presidente do Panamá que convenceu Carter a devolver o Canal).
Fecho com uma história brasileira. Estou fazendo um treinamento de software livre no trabalho e hoje estávamos mexendo na planilha, brincando com umas imagens do globo terrestre que encontramos na galeria. Uma delas mostrava o Brasil bem no centro do planeta e o estagiário da firma da consultoria de informática escreveu sob a imagem: “O país dos falsos ideais”. Nesse pequeno gesto, está o desabafo de toda uma geração.
Nada de novo no front hospitalar do meu tio.
3 Comentarios:
Não sei se concordo com a máxima dos falsos ideais... Acho um pouco forte demais. Ou talvez eu seja otimista demais, não sei. Mas na série de análises sumárias sobre o Brasil, tem uma da qual eu gosto muito: costumo afirmar que nos falta um episódio real de guerra civil. Aparte de separatismos aqui e ali, quero dizer. Talvez por isso nosso povo não tenha aprendido a dar valor ao que tem: consquistamos pouco, e não sangramos por isso. My humble opinion, anyway.
Pra mim não são os "falsos ideais", são os parcos ideais. O maior problema de ser um país colonizado a 504 anos, não é a exploração é o comodismo formado pela aceitação e "satisfação" do pouco provido pelos colonizadores.
Pra mim sim, país dos parcos ideais.
Grande abraço.
Caros,
também achei inusitado o comentário do rapaz. A maioria diria que o Brasil é um país com parcos ideais, ou com nenhum. Talvez ele estivesse se referindo à decepção com o PT, com a hipocrisia dos políticos, não sei. O que me assusta é que o ceticismo ("não acredito em nada") está a um passo do cinismo ("o meu primeiro e dane-se, a vida é assim mesmo").
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