O que está em jogo no Rio?
Bruno, respondendo a sua pergunta e examinando a eleição municipal no Rio, minha conclusão é que não estava em jogo a disputa de um projeto político para a cidade (a não ser talvez no caso do Crivella) e sim uma briga entre três redes de clientela pelo controle dos cofres do município.
A de Cesar Maia é formada pelas alianças que ele montou em seus dois mandatos como prefeito, com o apoio dos vereadores, das administrações regionais e dos grandes grupos empresariais da cidade. Todo mundo sabe o quanto a NET (leia-se Globo) lucrou com as obras que ganhou dele. E houve outras. Qualquer um que, como eu, tenha coberto como jornalista a política municipal no Rio sabe do mar de lama que envolve o governo Maia. O entusiasmo da grande imprensa não custa barato. Enfim, um político clássico de direita, que vende a imagem de administrador moderno em oposição a um Garotinho ou Maluf.
A candidatura de Crivella era mais um passo no projeto de poder da Igreja Universal e foi de longe a que teve mais militância autêntica. Pessoas que acreditam nele, e não simplesmente o sujeito que ganhou R$10 e um sanduíche de mortadela para agitar uma bandeira. Foi especialmente impressionante a quantidade de idosos que ele mobilizou, porque essa é uma categoria difícil de colocar nas ruas. Mas apesar do apoio da Universal ele não fez uma campanha voltada para os evangélicos, quando muito tinha um certo discurso de solidariedade cristã.
Por fim, Conde correu como o homem do casal Garotinho e se saiu surpreendentemente mal. É claro que a base dos Garotinhos está no interior, e não na capital, mas ainda assim fiquei espantado com a baixa votação do ex-prefeito. Será que o voto personalista na família do sr. Anthony Matheus é difícil de ser transferido, mesmo para seus apadrinhados? Parece que sim. Os Garotinhos têm usado um discurso religioso mais forte, sobretudo na baixada, onde o candidato deles está perdendo para o Lindberg.
A maioria dos líderes comunitários com quem o Ibase trabalha teve uma atitude bastante pragmática com relação às eleições, que pode ser resumida em um lema: votar em quem trouxer mais recursos para o bairro/favela/comunidade. É uma população assustada, empobrecida e desencantada, que se contenta com migalhas. A tal escolha do síndico, de que falei, e a própria esquerda caiu nessa arapuca. Não se discute outra forma de organização política da cidade - por exemplo, orçamento participativo, a questão da urbanização das favelas.
O Rio de Janeiro já foi uma caixa de ressonância para o resto do país, com líderes de expressão como Lacerda e Brizola. Hoje viramos um canteiro de obras de fachada, de uma mesquinharia provinciana e sonolenta. Conseqüência, acredito, da decadência econômica da cidade e do estado.
A de Cesar Maia é formada pelas alianças que ele montou em seus dois mandatos como prefeito, com o apoio dos vereadores, das administrações regionais e dos grandes grupos empresariais da cidade. Todo mundo sabe o quanto a NET (leia-se Globo) lucrou com as obras que ganhou dele. E houve outras. Qualquer um que, como eu, tenha coberto como jornalista a política municipal no Rio sabe do mar de lama que envolve o governo Maia. O entusiasmo da grande imprensa não custa barato. Enfim, um político clássico de direita, que vende a imagem de administrador moderno em oposição a um Garotinho ou Maluf.
A candidatura de Crivella era mais um passo no projeto de poder da Igreja Universal e foi de longe a que teve mais militância autêntica. Pessoas que acreditam nele, e não simplesmente o sujeito que ganhou R$10 e um sanduíche de mortadela para agitar uma bandeira. Foi especialmente impressionante a quantidade de idosos que ele mobilizou, porque essa é uma categoria difícil de colocar nas ruas. Mas apesar do apoio da Universal ele não fez uma campanha voltada para os evangélicos, quando muito tinha um certo discurso de solidariedade cristã.
Por fim, Conde correu como o homem do casal Garotinho e se saiu surpreendentemente mal. É claro que a base dos Garotinhos está no interior, e não na capital, mas ainda assim fiquei espantado com a baixa votação do ex-prefeito. Será que o voto personalista na família do sr. Anthony Matheus é difícil de ser transferido, mesmo para seus apadrinhados? Parece que sim. Os Garotinhos têm usado um discurso religioso mais forte, sobretudo na baixada, onde o candidato deles está perdendo para o Lindberg.
A maioria dos líderes comunitários com quem o Ibase trabalha teve uma atitude bastante pragmática com relação às eleições, que pode ser resumida em um lema: votar em quem trouxer mais recursos para o bairro/favela/comunidade. É uma população assustada, empobrecida e desencantada, que se contenta com migalhas. A tal escolha do síndico, de que falei, e a própria esquerda caiu nessa arapuca. Não se discute outra forma de organização política da cidade - por exemplo, orçamento participativo, a questão da urbanização das favelas.
O Rio de Janeiro já foi uma caixa de ressonância para o resto do país, com líderes de expressão como Lacerda e Brizola. Hoje viramos um canteiro de obras de fachada, de uma mesquinharia provinciana e sonolenta. Conseqüência, acredito, da decadência econômica da cidade e do estado.
5 Comentarios:
O que me surpreendeu não foi nem tanto o baixo rendimento do Conde, mas o fracasso esplendoroso do Bittar, que teve menos votos que a soma de brancos e nulos. O PT fluminense acabou... Entre a banheira da Benedita e os votos comprados do Babu, já era o partido. Lastimável...
Fasa e Mauricio,
Como já mencionei, o problema do PT Fluminense é o próprio partido. O qual veio investindo em candidatos sem expressão e questionáveis, pelo ponto de vista carismático. Após Benedita e Bittar, realmente o PT fica com dificuldades de se colocar no Rio.
O Crivella ter perdido não me surpreendeu. Foi uma eleição cantada, todos sabiam que o voto do medo (inclua o meu nesses), iria eleger César Maia no primeiro turno. Já era anunciado. Além do fato da Igreja Universal e a corrente "politico-evangelica" não ter muita força no município do Rio.
A questão que levanto é o governo. O município do Rio de Janeiro provou, com o baixo desempenho do Conde e do Crivella, que não queremos a família Garotinho e seus apadrinhados. Porém, seremos obrigados a lídar com esse coronelismo pelos próximos anos devido aos outros municípios do estado, que são "lobotomizados", ludibriados e votam nesses. Com essa conclusão, acrescento a pergunta, quão válido seria a Autonomia Carioca?
Concordo com o Maurício quando ele diz que a disputa na cidade do Rio de Janeiro não era entre evangélicos e "os outros". Dessa vez, os evangélicos dividiram seus votos entre Crivella e Conde, apoiado por Garotinho. E Cesar Maia ganhou de levada, com a esquerda dividida e confusa.
Mas no resto do estado essa clivagem realmente existiu. Em Nova Iguaçu Lindberg, do PT, está sendo apoiado por uma frente amplísima que inclui PFL e PSDB. O candidato de Garotinho, do PMDB, está batendo em dois pontos: Lindberg é um "forasteiro" (ele realmente não é de Nova Iguaçu) e "não é cristão". Segundo Rosinha e Garotinho, Lindberg defende a liberalização da maconha e o casamento gay. Lindberg nega.
Em Niterói parecia que haveria uma nova disputa entre essa frente ampla anti-Garotinho e Moreira Franco, do PMDB. Mas ele renunciou, afirmando que o governador "de facto" não o estava apoiando. Garotinho mais do que depressa declarou seu apoio ao candidato do PDT. Agora que o PMDB está em lua de mel com Lula, Garotinho prepara sua volta ao berço brizolista.
Resumindo, considero que agora a clivagem no estado do Rio é contra ou a favor de Garotinho. Um dos aspectos da política do governador realmente é a confusão entre religião e o Estado. Nessa questão, ele é assustadoramente parecido com George W Bush. Mas outro aspecto é o seu populismo barato, que afasta uma parcela, ainda que pequena, dos evangélicos.
Meus caros,
agora que os mapas eleitorais estão disponíveis, algumas coisas ficaram mais claras. O voto de Garotinho e Crivella se concentrou nos bairros mais pobres do Rio. César Maia foi bem em todas as regiões, mas teve a parcela maior nas áreas de classe média (zona sul, Tijuca) onde a esquerda também obteve a maior parcela de seus parcos votos.
O grupo do Garotinho sofreu algumas derrotas importantes no estado, como Nova Iguaçu, São Gonçalo, Niterói. Será o início da libertação? Espero que sim!
Scarlett, o Crivella tem militância autêntica, como os nazistas, Bush, Bin Laden. Às vezes é dificil de acreditar, mas as pessoas realmente ousam pensar diferente de nós!
preconceito rola solto aqui hen...???
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